Em qualquer reviravolta comportamental e/ou social sempre surgiram espertalhões se aproveitando da maré em proveito própio. Aqui, neste caso, a coisa não poderia ter sido diferente.
O Sex Pistols não foi uma banda como tantas outras surgidas da vontade de alguns jovens de montar um grupo musical. O expoente máximo do punk (geralmente sendo vistos como criadores do punk rock, embora isso não seja verdade) na realidade foi apenas a criação de um homem, Malcolm McLarem, pequeno empresário burguês londrino que no início da década de 70 possuia uma butique (Sex) especializada em sadomasoquismo, sentiu que ali havia um grande filão e passou a vender roupas previamente rasgadas. Um dia, ao ser visitado pelos integrantes da banda americana New York Dolls, impressionou-se com a sua aparência estranha, logo tornando-se seu empresário. Não tendo sido bem sucedido em empresariar os Dolls (que já estavam em franca decadência), McLarem voltou a Londres e começou articular a formação de um grupo musical que pudesse vestir a roupa que ele e sua mulher Vivienne Westwood (hoje uma famosa estilista) criavam. A escolha recaiu sobre dois frequentadores de sua loja, Paul Cook (baterista) e Steve Jones (vocalista), que juntamente com o baixista Glenn Matlock e o guitarrista Wally Nightingale, formavam um grupinho (The Swankers) que só tocava músicas dos anos 60. Mclaren decidiu que Nightingale não tinha o perfil para o que ele planejava. A solução imediata foi transferir Steve Jones para a guitarra e arrumar um novo vocalista. Embora a primeira escolha de Mclaren fosse Richard Hell (ex-Television), tudo mudou quando encontraram uma figura muito estranha dentro da loja. Um sujeito magrelo meio raquístico, com os dentes todos estragados chamado John Lydon (que entraria para a história como Johnny Rotten, algo semelhante a Joãozinho Podre, em virtude de seus dentes estragados). Conta a lenda que Lydon foi imediatamente integrado na banda ao entrar na loja de Malcolm usando uma camisa com os dizeres "I Hate Pink Floyd" e se dispor a fazer um teste acompanhando uma jukebox cantando uma música do Alice Cooper. Nenhum deles era músico profissional ou mesmo músico inspirado (apenas Cook e Jones já haviam participado efetivamente de uma banda, The Strand), mas tocavam mais do que suficiente para levar adiante o projeto de Malcolm.
Os primeiros shows foram fiascos completos e alguns nem foram, pois eles eram banidos do local antes de começarem, mas pouco a pouco conquistaram alguns seguidores e ganhando notoriedade justamente pela postura arrogantes e shows repletos de confusões.
Quando o esquálido Rotten apareceu na capa do semanário inglês New Musical Express, McLaren & Cia sentiram que o próximo passo seria descolar uma grana das gravadoras com um método nada honesto, como vocês verão a seguir...
Uma semana depois da referida capa, a EMI venceu uma espécie de leilão para conseguir um contrato com o grupo. Embolsando a quantia de 75 mil dólares, o grupo entrou em estúdio e gravou um single, "Anarchy in the UK". Com o lançamento desse single em 1976 a banda explodiu para o grande público. Pela primeira vez alguém tinha coragem de ser tão agressivo ao governo inglês em público e a banda rapidamente foi adotada como símbolo da insatisfação social e crítica ao regime. Em um programa de TV que apresentava pela primeira vez ao público inglês algumas bandas punks (na realidade substituindo a banda Queen que havia cancelado a entrevista na última hora) Johnny Rotten soltou um sonoro "fuck you" ao ser desafiado pelo entrevistador a dizer algo agressivo, fato inédito para a época, que jogou as vendas de Anarchy In The Uk para as alturas e levou à demissão da banda pela conservadora gravadora EMI (incidente já programado pela banda para ganhar o dinheiro da multa rescisória equivalente ao total do contrato).
Em 1977, com uma bela grana no bolso e um novo baixista, já que Glen Matlock havia sido despedido por ter uma "Imagem normal", sendo substituído pelo ex-baterista do Siouxsie & The Banshees, o mitológico Sid Vicious, que não sabia tocar contrabaixo. Assinaram com uma nova gravadora, A&M, já pensando no que fazer para embolsar mais uma grana por recisão de contrato. Por isso, dois dias depois a banda deu uma entrevista falando maiores barbaridades da Rainha, afim de promover o novo single "God Save The Queen". Embora oficialmente o single tenha chegado apenas ao número 2 nas paradas, é fato notório que ele foi número 1 (as revistas britânicas achavam que noticiar isto seria uma ofensa grande demais à coroa). A A&M também não aguentou a reponsabilidade de segurar uma banda tão perigosa e novamente foram despedidos, embolsando a quantia de 135 mil dólares! Sendo logo contratados pela Virgin, "God Save the Queen" conseguiu a proeza de vender 150 mil cópias em apenas cinco dias, mesmo estando banido de todas as rádios inglesas.
No final de 1977 lançam o primeiro e único álbum, Never Mind The Bollocks Here's The Sex Pistols. Segue-se uma grande turnê pelos estados unidos cheia de problemas, com Sid Vicious cada vez mais chapado e não conseguindo se apresentar (a única maneira de força-lo a ir para os Estados Unidos foi sequestrar sua nova namorada, Nancy Spungen), Steve Jones e Paul Cook envolvidos em brigas frequentes e o empresário Malcolm McLarem mais preocupado com um filme sobre a banda que com a turnê. Em meio a todos este problemas a banda foi desfeita antes de voltar à Inglaterra.
Em 1978 Sid Vicious seria preso pelo assassinato da namorada (romance retratado no filme Sid & Nancy), morta a facadas em um quarto de hotel em New York. Após ter sua fiança paga pela gravadora Sid morreu de uma overdose de heroína durante a festa de comemoração à sua libertação na casa de sua mãe.
A gravadora lançou então o disco The Great Rock N'Roll Swindle juntamente com o filme de mesmo nome. O nome (A Grande Trapaça do Rock n'Roll) assumia a armação que era a banda. O material foi composto por sobras de estúdio, algumas versões inéditas das músicas do primeiro disco, algumas gravações de Steve Jones e Paul Cook com o assaltante brasileiro Ronald Bigs (feitas após o fim da banda) e algumas gravações que Sid Vicious havia feito com McLaren. A banda havia se esfarelado.....
Depois de travarem uma extensa batalha judicial - onde McLaren teve que pagar quase dois milhões de dólares aos ex-membros e à mãe de Vicious, cada um foi cuidar de sua vida.
John Lydon seguiria carreira solo, com o seu Public Image Ltd (PIL). Jones depois mudou-se para Los Angeles onde participou de um projeto com Duff McKagan e Matt Sorum, do Guns n' Roses, além de John Taylor, ex-Duran Duran, além de gravar Fire and Gasoline, um álbum de Hard Rock.
Em 1996, aproveitando o revival da música punk gerada por bandas como Green Day, Offsprings, entre outras, Lydon, tendo desfeito seu projeto, chamou de volta Cook, Matlock e Jones para uma reedição dos Sex Pistols. Assumindo descaradamente que a volta era apenas uma maneira de ganhar mais dinheiro, conseguiram farta divulgação na imprensa e a turnê foi um sucesso.